Com o objetivo de fortalecer o debate sobre soluções que tornem a infraestrutura de transportes um vetor estratégico para a reindustrialização e a descarbonização do país, o ministro dos Transportes em exercício, George Santoro, participou, nesta quarta-feira (10), em Brasília, do seminário Logística Verde. O papel estratégico das ferrovias no futuro da logística nacional foi um dos temas centrais das discussões.
Durante sua participação, Santoro ressaltou a necessidade de ampliar os investimentos em ferrovias e citou a Transnordestina como um exemplo de grande empreendimento em andamento no país.
“A Transnordestina é um dos principais exemplos do que queremos para o futuro da logística nacional: grandes projetos sustentáveis com impacto direto no desenvolvimento regional e na redução das emissões”, afirmou.
Com 66% da execução física concluída e investimento estimado em R$ 15 bilhões, a ferrovia atravessa os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, e terá capacidade para transportar até 30 milhões de toneladas por ano de produtos agrícolas, combustíveis e fertilizantes. A conclusão da primeira fase está prevista para dezembro de 2027.
“O modal ferroviário ainda representa uma parcela pequena da matriz de transportes, mas tem enorme potencial de crescimento, principalmente se diversificarmos as cargas transportadas, hoje concentradas em minério, grãos e combustíveis”, acrescentou o ministro.
Concessões e financiamento verde
Santoro destacou, ainda, os avanços obtidos com os leilões de rodovias e defendeu a adoção de uma estratégia semelhante para as concessões ferroviárias.
“Chegamos a 16 leilões em dois anos e meio, com a perspectiva de fechar o ano com mais 14 ou 15. Precisamos estender essa solução adotada nas rodovias para o setor ferroviário, viabilizando novos projetos e fortalecendo a logística nacional”, ressaltou.
Além disso, o ministro reforçou a importância de incluir o setor de transportes na agenda de financiamento verde do país.
“O modal ferroviário é apontado como o que mais pode alavancar recursos por meio da taxonomia verde. Incluir o setor nas regras obrigatórias é fundamental para aproveitar esse potencial. Os primeiros projetos de trem intercidades já deverão operar com biocombustíveis”, concluiu.
Avanço da infraestrutura
O chefe do Departamento de Transporte e Logística do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ressaltou a urgência de racionalizar a matriz de transportes para cortar custos logísticos e reduzir emissões.
“Apesar da produção intensa, os modais de alta capacidade ainda têm participação baixa. Isso eleva os custos, pressiona o ‘custo Brasil’ e agrava as emissões”, afirmou.
Para Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), o avanço da infraestrutura é decisivo para garantir competitividade à economia e viabilizar a transição energética.
“O setor de transportes responde por cerca de 11% das emissões de CO₂, sendo o rodoviário responsável por aproximadamente 90%. A malha rodoviária melhorou com a participação privada, mas ainda há muito a ser feito, especialmente no modal ferroviário”, disse.
Investimentos em infraestrutura
Estudo da Coalizão dos Transportes, que reúne mais de 50 entidades do setor, indica que o Brasil pode reduzir em até 70% as emissões de carbono no transporte até 2050, desde que haja investimentos contínuos em infraestrutura e estímulos à transição energética. Entre as prioridades está o aumento da participação ferroviária no transporte de cargas.
O Ministério dos Transportes tem atuado para ampliar a presença do modal ferroviário na matriz nacional, com foco na retomada de obras estruturantes, na modernização das concessões existentes e na preparação de novos leilões para expandir a rede ferroviária.
Entre os principais empreendimentos em andamento também estão:
– Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico): trecho entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), com 25,4% de execução e mais de 6,6 mil trabalhadores. Até julho de 2026, serão entregues 130 km entre Mara Rosa e Crixás, quando está previsto o leilão da ferrovia;
– Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol II): entre Caetité e Barreiras (BA), com 70,5% de execução, devendo chegar a 75% até o fim de 2025.
Além disso, o Ministério conduz seis estudos de viabilidade para uso de trechos ferroviários de carga no transporte de passageiros, entre eles:
– Brasília–Luziânia (R$ 6,5 milhões)
– Salvador–Feira de Santana (R$ 6,6 milhões)
– Londrina–Maringá (R$ 5,6 milhões)
– Ligações metropolitanas em São Luís, Fortaleza e Pelotas.
A expectativa é que algumas dessas iniciativas avancem para audiência pública neste segundo semestre de 2025.