Porto de Santos abriu mão de mais de R$ 40 milhões em tarifas para incentivar navios e terminais verdes


Enquanto a COP30 consolida o Brasil como protagonista climático global, o Porto de Santos busca liderar a transição energética no setor aquaviário nacional. A Autoridade Portuária de Santos (APS) investe em um conjunto de iniciativas que materializam as metas de descarbonização estabelecidas pela Organização Marítima Internacional (IMO) e pelo Acordo de Paris, posicionando a maior porta de entrada do país como um hub de logística sustentável.

Desde 2023, o desconto tarifário ofertado a navios e terminais que adotam práticas sustentáveis soma cerca de R$ 40,6 milhões. Somente em 2025, a cifra chega a R$ 16,8 milhões.

São receitas que a APS abre mão de arrecadar para incentivar terminais a produzirem o inventário completo de suas emissões de gases de efeito estufa, além do detalhamento da matriz energética. Navios “verdes” – que atendem a normas internacionais de emissões de carbono e níveis de ruído – também são beneficiados.

“Para a APS, não é perda de receita. É investimento”, afirma o presidente da empresa pública, Anderson Pomini. “Assumir a dianteira nesse processo não significa apenas adequação a exigências globais, mas a consolidação de uma vantagem competitiva essencial para continuar atraindo parceiros globais que priorizam cadeias logísticas sustentáveis”.

Alavancas para um futuro sustentável 

O setor marítimo responde por 80% do comércio mundial e 3% das emissões globais de GEE, segundo dados da IMO, tornando a transformação dos portos crítica para o cumprimento das metas do Acordo de Paris. Para viabilizar a descarbonização, os portos devem atuar em três alavancas: eficiência logística, biocombustíveis e fornecimento de energia elétrica renovável.

Em outubro, a APS firmou contrato com a Fundação Valenciaport para a elaboração de um Plano de Descarbonização e de um Plano Diretor Energético (PDE) para o Porto de Santos. O contrato prevê a entrega dos estudos no prazo de 22 meses.

O Plano de Descarbonização tem como objetivo traçar diretrizes e metas para descarbonizar as operações de todo o complexo portuário da Baixada Santista – o que inclui as atividades tanto da APS como dos terminais portuários, dos navios que operam no Porto e dos modais de transporte ferroviário e rodoviário.

Por sua vez, o PDE vai traçar diretrizes e ações para que o Porto de Santos possa transicionar da energia oriunda de combustíveis fósseis, altamente emissora de CO2, para fontes de energia cada vez mais limpas.

Energia renovável e logística inteligente

Desde 2024, o Porto de Santos também desenvolve um projeto pioneiro de eletrificação do cais. A energia limpa e renovável gerada pela Usina Hidrelétrica de Itatinga abastece os cerca de 20 rebocadores que operam no local. Negociações em andamento visam ampliar o fornecimento.

Já a eficiência logística avança com o apoio do Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT), que desenvolve soluções para o sequenciamento de caminhões e navios, reduzindo o tempo de espera e, consequentemente, as emissões.

O VTMIS (Sistema de Gerenciamento de Informações do Tráfego de Embarcações) – em implantação – será outro marco, otimizando o fluxo de embarcações.

Para o diretor de Operações da APS, Beto Mendes, é dever do maior Porto do hemisfério sul apostar em inteligência e tecnologia para unir eficiência e sustentabilidade. “Iniciativas como a parceria com o PIT, uma referência internacional em inovação, preparam o Porto de Santos para o futuro e alinham as operações portuárias às melhores práticas globais”, pontua.

Por fim, a repotencialização da Usina de Itatinga, em fase de estudos, pretende elevar a capacidade de geração, incluindo a produção de hidrogênio verde. A planta, que hoje já atende a quase a totalidade da demanda energética da APS, poderá abastecer diretamente parcela significativa das operações portuárias.

Paralelamente, as instalações de Gás Natural da Baixada Santista consolidam-se como diferencial estratégico na transição energética, permitindo o abastecimento de navios com combustível de baixo carbono.

Sidnei Aranha, superintendente de Meio Ambiente da APS, explica que o conjunto de iniciativas pretende “Consolidar corredores marítimos verdes. Quando os pontos de chegada e partida de uma embarcação asseguram o fornecimento de combustível considerado de baixo impacto.”

Gestão baseada em dados

Desde 2021, a APS opera com rigor científico na gestão de suas emissões. A instituição elabora anualmente seu inventário de gases de efeito estufa (GEE) utilizando a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol, homologada por diretrizes da CETESB. O documento abrange cerca de 400.000 m² de áreas operacionais em Santos, Guarujá e Bertioga, além de 19,5 milhões de m² de áreas vegetadas sob gestão ambiental da portaria.

“O inventário não é apenas um relatório; é nossa bússola para decisões estratégicas. Saber exatamente nossa pegada de carbono permite que cada investimento seja direcionado aonde há maior impacto climático”, explica Aranha. Os relatórios completos estão disponíveis no site da empresa pública.

 

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