Comércio com Liga Árabe gera superávit de US﹩ 6,1 bi em 2020


O comércio entre o Brasil e a Liga Árabe gerou US﹩ 6,11 bilhões de superávit para o lado brasileiro em 2020. O superávit é a diferença entre as exportações e importações, recurso que se soma às reservas cambiais para gestão do câmbio, celebração de contratos internacionais e investimentos.

O resultado corresponde a 12,2% do superávit total recorde de US﹩ 50 bilhões alcançado pelo Brasil ao longo do ano. Representa ainda alta de 16,2% sobre o saldo positivo da balança Brasil-Liga Árabe de 2019, segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

A entidade diz ainda que as exportações do Brasil para o bloco de 22 países no Oriente Médio e no norte da África geraram receita de US﹩ 11,47 bilhões, 6,3% abaixo da de 2019. A queda, no entanto, é menor que a registrada em outras parcerias comerciais relevantes, como os Estados Unidos (-23,7%), e Mercosul (-17,7%).

O desempenho das exportações também mantém a Liga Árabe entre as três maiores parcerias comerciais do Brasil no exterior, atrás da China e dos Estados Unidos. Também confirma a região como o segundo destino das exportações do agronegócio, cujos produtos são novamente o destaque na pauta de exportações.

O açúcar brasileiro foi o produto mais demandado (receita de US﹩ 2,87 bilhões, alta de 32,5% sobre 2019), seguido da carne de frango (US﹩ 1,99 bilhão, -11,7%), minério de ferro (US﹩ 1,40 bilhão, -22,3%), milho (US﹩ 1,12 bilhão, +3,1%) e carne bovina (US﹩ 968,03 milhões, -18,2%), destinados principalmente aos Emirados Árabes (comprou US﹩ 2 bilhões em 2020, redução de 8,7% sobre 2019), Arábia Saudita (US﹩ 1,89 bilhão, -6,7%) e Egito (US﹩ 1,75 bilhão, -4,0%).

Para o presidente da Câmara Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, o avanço de 16,2% no superávit junto aos árabes e o desempenho relevante das vendas a esses países em 2020 reforçam a importância estratégica da Liga Árabe para o setor produtivo brasileiro. Hannun destaca que, apesar da queda de 6,3% na receita total, a demanda no bloco seguiu firme ao longo do ano.

O executivo afirma que a queda deve ser analisada num contexto em que a demanda global por alimentos, principalmente o brasileiro, foi exacerbada pela pandemia. Esse cenário de competição fez, inclusive, com que os árabes pagassem pelos produtos brasileiros preços FOB (no porto) médios por tonelada ligeiramente maiores em relação a 2019.

“Os países dependentes do alimento produzido fora dos seus territórios, caso dos árabes, tiveram de agir ativamente para manter seus estoques em 2020, enfrentando uma competição feroz com a China, a indisponibilidade de contêineres para o transporte de carnes, a interrupção de algumas cadeias de alimentos mundo afora, além de outras contingências”, pontua o dirigente.

No empenho de assegurar o acesso a alimentos, os árabes buscaram ativamente gêneros alimentícios pelo globo. No início da pandemia, o Egito, por exemplo, habilitou de uma vez 42 frigoríficos no Brasil na tentativa de aumentar o fluxo de proteína para o país.

Os Emirados Árabes enviaram uma missão de importadores recém-credenciados, que se somaram aos que já atuavam por aqui, para comprar frango tipo griller. A missão até encontrou o produto, mas teve de aceitar prazos maiores, de até 60 dias, pela falta imediata de pintinhos.

Em julho, a Câmara Árabe também foi procurada por importadores da Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Marrocos e Sudão, encarregados por seus governos de comprar carne bovina, frango, pescado, açúcar, arroz, derivados de leite, milho e frutas. Esses importadores pediram ajuda à entidade porque nunca atuaram no Brasil, e a Câmara Árabe chegou a convocar entidades setoriais para atender a demanda inesperada.

Hannun destaca que, mesmo nesse cenário de forte competição, não houve ao longo do ano relatos de quebra de contrato por fornecedores brasileiros. A pandemia, no entanto, provocou uma reconfiguração significativa no comércio com a região, abrindo novos mercados e modificando a demanda em outros.

A Argélia, por exemplo, comprou US﹩ 1,19 bilhão em 2020, alta de 16,2% sobre 2019. O país do norte da África historicamente possui uma relação comercial superavitária com o Brasil, que em 2020 se inverteu em favor do lado brasileiro. O Marrocos, que costuma figurar entre os dez maiores mercados, em 2020, comprou 43% mais em relação a 2019 (US﹩ 671,28 milhões) e agora está na sétima posição.

Já na pauta, o açúcar voltou a figurar como o produto mais demandado pelos parceiros árabes, desbancando o frango. Sozinha, a commodity foi responsável por 25% do total de receitas, US﹩ 2,87 bilhões, alta de 32,5% sobre 2019, indicativo que o setor sucroenergético, mais mecanizado que seus concorrentes na Índia e na Tailândia, conseguiu manter um fluxo comercial estável e acabou por tomar uma fatia maior do mercado árabe.

Houve ainda maior demanda por soja (US﹩ 323,1 milhões, +68,7%) e milho (US﹩ 1,12 bilhão, +3,1%), puxada pelos mercados do Golfo Arábico, que têm os projetos de substituição de importações de alimentos mais adiantados da região ─ todos eles acelerados na pandemia ─, razão que explica em parte a queda nas vendas diretas a esses países.

A Câmara Árabe notou ainda que o fechamento do food service na maioria dos países árabes decorrentes do lockdown local levaram à adaptação de produtos porcionados vendidos a restaurantes para a comercialização em supermercados e para a entrega em domicílio, além da maior procura por frutas em todos os grandes mercados da região.

Para Hannun, na perspectiva dos árabes, a pandemia exacerbou a necessidade de estreitar a cooperação com o Brasil na área de segurança alimentar, com medidas como a criação de linhas logísticas diretas entre o país e nações árabes, que permitam a ampliação das exportações dos dois lados, aproveitando produtos que possam ser transportados no mesmo tipo de navio.

O executivo também destaca a importância da retomada, após a pandemia, das negociações dos acordos de livre comércio parados por sensibilidades, principalmente as cooperações do Mercosul com Líbano, Marrocos, Palestina e com o Conselho de Cooperação do Golfo. Hoje, o Brasil tem acordo de livre comércio só com o Egito.

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