Energia renovável: crescimento do mercado abre novas perspectivas para o Brasil


Novo momento vem puxando importação de placas fotovoltaicas e atraindo investimentos em portos, indústrias e residências ao redor do país

Quando o assunto é geração de energia, não há mais volta: as renováveis vão dominar o mercado. Investimentos em produção de energia alternativa fazem parte de considerável fatia do setor produtivo mundial e começam a ser adotadas por empresas também no Brasil. O país deverá ter um salto de 44% na capacidade instalada de energia solar em 2019, segundo projeção da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Os investimentos acumulados em projetos de geração distribuída já somam mais de R$ 4,8 bilhões, segundo a entidade. 

De acordo com mapeamento da Absolar, o Brasil possui atualmente 79.290 sistemas fotovoltaicos conectados à rede. O país superou a marca de 2.000 megawatts (MW) de potência operacional em sistemas de geração centralizada solar fotovoltaica, ou seja, usinas de grande porte, conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Isto é o equivalente a 1,2% da matriz elétrica do país, passando a ocupar a posição de sétima maior fonte do Brasil e ultrapassando a nuclear, proveniente das usinas de Angra I e Angra II, no Rio de Janeiro.

Em número de sistemas instalados, os consumidores residenciais estão no topo da lista, representando 74,1% do total. Em seguida, aparecem as empresas dos setores de comércio e serviços, com 17,2% e consumidores rurais, com 5,3%. As indústrias são 2,8% do todo.

Os números representam mais de R$ 10 bilhões em investimentos privados atraídos ao país desde 2014, que viabilizaram a geração de mais de 50 mil novos empregos locais qualificados pelo setor nas regiões onde os projetos foram implantados. As usinas em operação geram energia elétrica limpa e renovável suficiente para suprir um consumo equivalente à necessidade de mais de 3 milhões de brasileiros. Adicionalmente, há mais de 1.500 MW em novos projetos em fase de desenvolvimento e construção, com início de operação previsto para até 2022.

Os números representam mais de R$ 10 bilhões em investimentos privados atraídos ao País desde 2014, que viabilizaram a geração de mais de 50 mil novos empregos locais qualificados pelo setor nas regiões onde os projetos foram implantados.

O CEO da associação, Rodrigo Sauaia, adverte que o mercado brasileiro de geração distribuída solar fotovoltaica mal começou e precisa de segurança jurídica, regulatória e previsibilidade do poder público para ampliar sua atratividade ao mercado e aos investidores. Segundo ele, se mantidas as regras atuais para o segmento, serão arrecadados mais de R$ 25 bilhões até 2027 em geração distribuída solar fotovoltaica.

A expansão promete ser puxada, pela primeira vez, pela chamada geração distribuída — em que placas solares em telhados ou terrenos geram energia para atender à demanda de casas ou de estabelecimentos comerciais e indústrias. Os projetos de geração distribuída deverão acrescentar 628,5 megawatts (MW) em capacidade solar ao país, um crescimento de 125%, enquanto grandes usinas fotovoltaicas devem somar 383 MW até o final do ano, um avanço de 21%. “É uma marca importante para a geração distribuída. Aquela visão do passado de que a energia alternativa é cara não se sustenta mais, ela se tornou uma opção acessível, e existem diversas linhas de financiamento”, diz Rodrigo Sauaia.

Importação em alta

Estimativas como estas estão puxando a importação de placas fotovoltaicas de países como China e Alemanha por meio da Allog, empresa especializada em logística internacional. Carlos Souza, gerente da divisão de cargas projetos da Allog, explica que as projeções de crescimento do setor são compatíveis com o volume de produto a ser importado. “Os importadores estão voltando os olhos para importação do setor de energia renovável”, destaca. 

De forma geral, as placas que chegam ao país desembarcam nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), de onde são distribuídas para o mercado comprador do país. Elas são transportadas em contêineres de 40 pés, sendo considerada uma carga que os armadores (donos de navios) gostam de trabalhar. Conforme Carlos, as placas fotovoltaicas são movimentadas pela Allog desde meados de 2017, o que coloca a empresa no mercado internacional deste tipo de produto. 

O setor será foco, entre 27 e 29 de agosto, da Intersolar South America, maior feira e congresso da América Latina voltado ao setor de energia solar, em São Paulo. Ao longo dos três dias, a Intersolar será palco das principais discussões em termos de desenvolvimento do setor e da geração de negócios. Na Intersolar 2019, a expectativa é receber mais de 20.000 visitantes e mais de 1.500 congressistas Além da área de exposição, o congresso contará com especialistas renomados para abordar os principais assuntos e novidades do setor.

Este ano, serão realizados no mesmo espaço outros três eventos paralelos: a Electrical Energy Storage (ees) – inovações e programas de armazenamento de energia elétrica; EM Power e a Eletrotec – Feira de Infraestrutura Elétrica.  “O Brasil está no mapa dos países mais promissores no segmento de geração de energia solar e a feira é um catalisador das oportunidades desse setor, buscando promover o desenvolvimento e a competitividade”, afirma Mônica Carpenter, diretora da Aranda Eventos, empresa co-organizadora da Intersolar South America.

Competitividade

A fonte solar fotovoltaica tem apresentado forte queda de preços, o que permitiu que a tecnologia atingisse um novo patamar de competitividade a partir do leilão de energia nova A-4 de 2017, quando o governo federal fechou a contratação de 674,5 megawatts em novas usinas de geração, com predomínio dos empreendimentos solares. Desde então, a fonte tem ofertado energia elétrica a preços médios inferiores aos praticados por outras renováveis, como a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

A Absolar projeta que a tendência de redução de preços da fonte solar fotovoltaica deverá continuar pelos próximos anos, fazendo com que passe a assumir um papel de destaque cada vez maior na expansão da matriz elétrica nacional. Para o Presidente do Conselho de Administração da Absolar , Ronaldo Koloszuk, a energia solar fotovoltaica agrega inúmeros benefícios para o progresso do Brasil. “A fonte contribui para a redução de gastos com energia elétrica, atração de novos investimentos privados, geração de empregos locais, redução de impactos ao meio ambiente e redução de perdas elétricas na rede nacional”, destaca. O Brasil possui hoje usinas solares fotovoltaicas de grande porte operando em nove estados nas regiões Nordeste, Sudeste e Norte do País, com destaque para Bahia, Minas Gerais e Piauí.

Um dos países que mais investe em energia renovável na atualidade é a Espanha. Há dois anos, mais de 38% da eletricidade produzida no país veio de fontes renováveis. Historicamente o país possui grande dependência de combustíveis fósseis, porém essa tendência vem mudando – a ponto de atualmente ser o segundo da Europa em parques eólicos instalados e quinto no mundo. Segundo o Informe del Sistema Eléctrico Español 2018, publicado pela Red Eléctrica de España (REE), a energia eólica representa 19,8% da eletricidade consumida da Espanha.  Se considerar a energia solar fotovoltaica, em 2018 foram instalados 261,7 megawatts, ampliando a potência instalada em 94% em relação a 2017.

Casas e portos

Nas residências, empresas ou portos, o uso da energia renovável começa a ganhar cada vez mais espaço. Um dos primeiros terminais a investir na área foi o Porto de Paranaguá, no Paraná. Em 2017, o canal de acesso ao porto ganhou lanternas de boias de sinalização que funcionam com energia solar. De extrema importância para a aproximação de navios no período noturno, as baterias das lâmpadas que operam com energia solar são mais ágeis e diminuem os impactos ambientais.

Ao todo existem 63 boias ao longo do canal de navegação, todas com a própria iluminação, servindo como orientação e sinalização aos navios que chegam ou deixam os portos. Uma das vantagens é que as lâmpadas não precisam ser retiradas todos os dias para receber carga convencional – a praticidade gerada pelo carregamento por energia solar é que a verificação acontece apenas duas vezes por mês, tempo suficiente para identificar a durabilidade das baterias e a necessidade de troca.

Há 3 anos, o porto de Roterdã, na Holanda, também recebeu a instalação do maior sistema solar em telhados da cidade até então, como parte da sua estratégia de sustentabilidade. O sistema tem cerca de 3.100 painéis solares espalhados por uma área de 7.500 metros quadrados com objetivo de gerar 750.000 kWh de eletricidade por ano, energia suficiente para cobrir as necessidades anuais de cerca de 250 famílias holandesas.

A instalação foi concluída pela empresa de logística Samskip, através da sua subsidiária frigoCare e em colaboração com a empresa holandesa de energias renováveis Zon Exploitatie Nederland (ZEN). A instalação dos painéis solares custou cerca de 1 milhão de euros e espera-se que o investimento possa ser recuperado dentro de um período de 10 anos.

A energia renovável também está em evidência na CasaCor 2019 de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Por meio de uma parceria entre Engie, líder em geração de energia elétrica no Brasil, e a Sunew, líder global na produção do Filme Fotovoltaico Orgânico (OPV), os visitantes poderão conhecer um carport (cobertura de carro para estacionamentos) que poderá ser usado para carregar baterias de carros elétricos. O processo de geração de energia limpa será demonstrado com um carro elétrico Smart, que também está exposto no local até o dia 18 de agosto.

 Do inglês Organic Photovoltaic, o OPV da Sunew é uma inovação para green buildings, conceito que busca neutralizar a pegada de carbono nos maiores centros urbanos. Para cada metro quadrado de OPV, 120 Kg de CO2 deixam de ser emitidos por ano. Além de leveza e espessura fina (como os insulfilmes), o OPV tem flexibilidade e resistência a trepidações. O material já está sendo usado como solução para aplicação em fachadas de prédios, janelas, claraboias, mobiliários urbanos e carros. ν

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