O Brasil na corrida pela produção de drones


Grande utilizador do drones na lavoura, o Brasil tem empresas que se consolidam como desenvolvedoras de aeronaves não tripuladas para uso no campo, no mapeamento de florestas, de centros urbanos e na defesa. Além de desenvolver parte da tecnologia, o Brasil exporta drones montados localmente. No entanto, existem desafios e oportunidades para que o País se coloque ao lado dos líderes globais nesta tecnologia: China e Estados Unidos.

Uma das empresas brasileiras que desenvolve drones com tecnologia própria é a Xmobots. Fundada em 2007 com apoio de uma incubadora da Universidade de São Paulo (USP), a companhia investiu desde os seus primeiros dias em pesquisa, desenvolvimento e certificação por acreditar que ter tecnologias “proprietárias” era fundamental para garantir segurança dos equipamentos e operações.

Reprodução/Xmobots

Xmobots é desenvolvedora de drones

Desde então, com financiamentos de agências como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), a empresa desenvolveu diversos modelos com tecnologia “100% nacional”. Atualmente, um dos principais produtos da companhia é uma aeronave com alcance de cinco quilômetros, uma hora de autonomia de voo e capaz de voar acima de 400 pés (o equivalente a 122 metros de altitude) com autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

De acordo com a gerente comercial da Xmobots, Thatiana Miloso, o Brasil ocupa “posição de destaque” no que se refere à regulamentação e tecnologia e, para uso de drones em setores como sucroalcooleiro e algodoeiro, a Xmobots é uma pioneira global. A partir de 2022, a companhia pretende ampliar suas exportações, que hoje já alcançam Angola, Chile, Peru e Argentina.

“As operações de exportação terão um start agressivo a partir do lançamento de uma nova linha de drones (previsto para 2022) cuja manutenção será muito mais “plug and play” do que é hoje. Hoje nossas manutenções acontecem num tempo rápido, mas ainda necessitam de uma mão-de-obra especializada, o que inviabiliza operações overseas (em outro continente)”, afirma. “Com o lançamento dessa nova linha, teremos como pontos estratégicos iniciais de expansão a América Latina e os Estados Unidos”, diz. Plug and play é um termo utilizado para definir sistemas que se configuram quase automaticamente a um novo dispositivo.

Nuvem UAV

Outra companhia do setor que se prepara para ampliar a internacionalização é a Nuvem UAV. Criada em 2016, a empresa desenvolve os produtos em sua sede, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, encomenda as peças no exterior e monta os equipamentos no Brasil, a exemplo do que já fazem gigantes de tecnologia.

Aproximadamente 70% das vendas da empresa são de drones para o agronegócio, mas a companhia atua também em segmentos como meio ambiente, mapeamento topográfico e defesa.

De acordo com o diretor-comercial da Nuvem UAV, Roberto da Silva Ruy, o drone no agronegócio aumenta a produtividade da lavoura, reduz os custos e permite ao produtor entregar um produto melhor ao consumidor final. “O drone é muito mais eficiente e tem um custo muito menor do que utilizar um funcionário em terra ou uma aeronave tripulada para mapear a lavoura e pulverizar o solo de uma forma menos ordenada. Ao analisar, do alto, onde estão os focos de pragas, permite que se aplique o agrotóxico apenas naquele ponto e evita, assim, o uso desnecessário do produto. Reduz o custo para o agricultor e gera um produto melhor ao consumidor”, diz Ruy.

Um dos produtos da empresa, diz o executivo, tem um diferencial em relação a todos os pares na América Latina: tem autonomia de voo de até uma hora, o que permitirá que a Nuvem UAV expanda seus negócios. “Nosso foco principal para o ano que vem é ampliar a nossa internacionalização, expandir para a América Latina, onde já exportamos para Colômbia e Paraguai, chegar até América Central e Estados Unidos”, diz.

Ruy avalia que a expansão no uso de drones no agronegócio ocorre tanto porque o mercado brasileiro tem muito potencial neste setor, em razão da modernização da sua lavoura e da área cultivada, como porque no campo as regulamentações são mais flexíveis do que nas cidades.

Para agronegócio e florestas

O coordenador do Comitê de Aviação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Nei Brasil, afirma que o País é, de longa data, um especialista em desenvolver aeronaves com tecnologia avançada embarcada, o que deve se manter nos próximos anos com os drones. Além do agronegócio e do setor de defesa, ele afirma que há emprego para os drones na indústria de construção e cinematográfica. “Os drones estarão cada vez mais presentes na vida da sociedade. Usos militares e civis se disseminaram nos últimos 20 anos e novas aplicações estão em desenvolvimento”, afirma.

Divulgação

Silva: produção tem desafios

Apesar do pioneirismo dessas companhias, o Brasil ainda enfrenta desafios e pode evoluir no desenvolvimento de tecnologia, produção e regulamentação. Coordenador do projeto Drone da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do colégio técnico da mesma instituição, Jodir Pereira da Silva afirma que embora o Brasil tenha drones para uso específico conforme suas necessidades, como o agronegócio e o mapeamento de florestas, o País ainda não compete com a China, por exemplo, na produção de peças dos equipamentos. Os rotores, que são os motores dos drones, por exemplo, são originários do país asiático.

Não apenas os chineses, mas também os norte-americanos são especialistas em desenvolvimento de peças e equipamentos para drones. Franceses e suecos, por sua vez, desenvolvem peças específicas para os aparelhos, como lentes e câmeras de alta definição. Até os suíços criam tecnologias que são testadas, observa Jodir, na floresta amazônica brasileira. “Em 2017, a Universidade de Zurique desenvolveu um drone de monitoramento e passou a empregá-lo na Amazônia. É um equipamento formado por asas com células fotovoltaicas alimentado por energia solar. Ele é capaz de voar por 31 dias ininterruptos, sem pousar, e foi criado para coletar dados ambientais. Está em uso pelos suíços aqui”, afirma.

Burocracia

Além disso, dizem Jodir e Ruy, da Nuvem UAV, o Brasil precisa desburocratizar o setor. Ruy recorda que, em muitas ocasiões, as peças importadas que serão utilizadas na linha de montagem enfrentam a burocracia de órgãos federais. Jodir, por sua vez, avalia que há entraves que impedem um desenvolvimento maior do setor.

“Há uma sobreposição de órgãos envolvidos no processo de certificação de drones”, diz, lembrando que o equipamento precisa de certificações justamente para não invadir o espaço aéreo de uma aeronave tripulada e para que seus sistemas de comunicação estejam em conformidade com as normas da legislação nacional.

Além de exportar, o Brasil poderia, na visão de Jodir, ampliar o processo de internacionalização do setor por meio de parcerias. Países do Oriente Médio, por exemplo, utilizam drones no setor de defesa, o que não é tão difundido no País como o agro.

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