Porto de Santos pode se tornar ‘hub’ até 2030, afirmam especialistas


Independência da área política, melhor planejamento e consolidação de Santos como hub port são apontados como anseios para o futuro do setor.

O desenvolvimento e a modernização do Porto de Santos são temas debatidos constantemente pela Companhia Docas do Estado São Paulo (Codesp), a autoridade portuária, e agentes ligados ao setor marítimo e portuário.

No fim de setembro, durante o I Congresso Paulista de Direito Marítimo e Portuário, realizado na Associação Comercial de Santos, o presidente da Codesp, Casemiro Tércio de Carvalho, já apontava para esta necessidade, além de cobrar proatividade por parte daqueles envolvidos na comunidade portuária.

“Porto não pode ser mais o do saco de açúcar em cima do ombro. Você vai em outros portos no mundo e não tem uma pessoa no cais, é tudo automatizado. Mas essa mão de obra está em algum lugar fazendo isso aí. Não há uma pessoa no costado, mas existem 500 engenheiros num prédio fazendo a programação”, comentou Carvalho.

“Temos que fazer isso porque, se não for Santos, algum outro porto na costa brasileira vai assumir essa responsabilidade”, emendou.

Na visão de Agelino Caputo e Oliveira, diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), o Porto de Santos deve se consolidar, até 2030, como hub port da América Latina.

“A expectativa é que, primeiro, tenha encerrado essa longa crise. O Porto, provavelmente nesta época, e com as ações que estão sendo encaminhadas em termos estratégicos pelo Governo, tenha se consolidado no papel de hub port da América Latina. Vai ser um grande concentrador de cargas e receber navios maiores, que estão vindo cada vez mais para o Hemisfério Sul. A partir de Santos, vai ser feita a distribuição dessa carga, em navios menores, para outros portos, tanto do Brasil quanto do Hemisfério Sul”, avaliou Caputo.

“(A questão política) ainda é o grande entrave e a grande interrogação do Porto de Santos e todo sistema de portos organizados do País. Ainda não temos um instrumento legal que faça uma blindagem efetiva em relação a influência política nas administrações portuárias. O atual governo estabeleceu diretorias técnicas, mas não garantias que isto continuará após a saída do governo presente”, analisou Aquino, relembrando que o Porto de Santos já viveu um período, entre 2007 e 2010, com uma diretoria técnica.

Para o membro da Fenop, o porto santista “é um grande candidato a se tornar um hub port”, porém, depende de outros fatores. Entre eles, ele destacou a necessidade de sistemas que garanta um porto organizado de maneira efetiva, profissionalizado, além da recuperação, de forma competitiva, da cabotagem no Brasil.

Para o economista e professor universitário Helio Hallite, especialista no setor, o Porto está atrasado e sofre com a falta de planejamento. Além disso, ele concorda com a visão de Aquino, ao dizer que a ingerência política sempre foi o maior entrave.

“Recentemente, apresentei o projeto ‘Rotterdam 2030’ numa palestra. Esse tema foi lançado há mais de 10 anos. Santos não tem ideias claras sobre seu futuro e, o pior, comparativamente a outros portos, está atrasado. Será preciso um salto na história para solucionar o que ficou de lado. Exemplo disso é a degradação do cais do Valongo. E pensar que os argentinos resolveram seu Puerto Madero em 1994. Porém, o mais grave é o fato da inexistência do tão prometido ‘distrito de indústrias’ , ‘condomínios logísticos’ e vários outros projetos que nunca saíram do papel”, ponderou Hallite.

Para o professor, hub port é um termo “que virou moda, daquelas modas conceituais”. No entanto, ele alertou que hub port deve possuir profundidade maior “que os nossos tímidos 13 metros”. “Porém, temos uma geoposição muito importante. Esse é o único fator”, avaliou o economista.

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