Integração porto-ferrovia é tema de debate em evento que reuniu Estado, Governo Federal e indústria


Com os avanços do projeto de expansão da malha ferroviária para o transporte de cargas pelo Estado do Paraná, o setor produtivo volta a atenção para a outra ponta da cadeia logística: o porto. O potencial de movimentação dos portos paranaenses, nos mais diversos segmentos, foi debatido, nesta quarta-feira (15), durante toda a manhã, em encontro que reuniu o Governo do Estado, iniciativa privada e Governo Federal, na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba.

“O governo tem, constantemente, dialogado com todo o setor produtivo do Paraná para essa construção da nova infraestrutura do nosso Estado. Esse diálogo tem sido intermodal”, disse o secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex.

De acordo ele, os resultados alcançados pelos portos de Paranaguá e Antonina são resultados não só do trabalho e da dedicação dos trabalhadores paranaenses, mas também uma combinação de toda a logística e infraestrutura que têm se desenvolvido no Estado. “Seja rodoviária, ferroviária ou aérea, todas chegam até os portos”, disse o secretário. “E o Governo do Estado tem trabalhado exatamente projetando esse Hub, pelas características logísticas do Paraná”, acrescenta Alex, destacando os avanços não apenas do projeto da Nova Ferroeste, mas também no processo para as novas concessões de rodovias.

Segundo o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, os portos, em contrapartida, também têm se preparado para todo esse avanço na infraestrutura do Estado, como ele apresentou no evento da Fiep. “O porto precisa estar preparado para melhorar a condição de receber essas cargas. O principal meio é promover uma melhora na condição ferroviária”.

Garcia afirma que hoje o volume de carga que chega pelos trilhos aos portos paranaenses não é tão expressivo quanto pode ser. “A hora que conseguirmos melhorar – e o projeto do moegão é fundamental para essa recepção ferroviária, com as licitações dos novos terminais, certamente vamos conseguir atender toda a demanda futura que está sendo projetada”.

De acordo com ele, os atuais investimentos no desenvolvimento dos portos do Paraná acontecem, simultaneamente, em três frentes: infraestrutura terrestre, marítima e de armazenagem (com novos arrendamentos). O objetivo, em geral, é não apenas ampliar a capacidade, mas também reduzir os custos ao setor produtivo, o que faz aumentar a competitividade do Estado.

Nessa linha, além do projeto do Moegão – referente à ampliação da capacidade de descarga ferroviária em uma moega exclusiva para atender o modal – ainda se destacam o projeto do Novo Corredor de Exportação, que vai ampliar muito a capacidade de escoamento dos graneis sólidos; o projeto para a concessão do canal de acesso marítimo; a dragagem continuada de manutenção; e a derrocagem da porção mais rasa do maciço rochoso conhecido como Pedra da Palangana.

FERROVIA – O projeto da Nova Ferroeste, também apresentado na pauta do encontro na Fiep, é a nova estrada de ferro, com 1.304 quilômetros, que vai ligar Maracaju (MS) a Paranaguá. Como apontam os estudos, esta deve movimentar cerca de 26 milhões de toneladas de carga já no primeiro ano de operação, principalmente grãos (em especial a soja) e contêineres refrigerados com proteína animal.

O secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura, Marcello da Costa, disse que essa ferrovia vai criar um grande corredor logístico, captando carga do Paraguai via Foz do Iguaçu, e ser mais uma opção para o Centro-Oeste a partir de Maracaju; e isso, segundo ele, se alinha com a estratégia do governo federal para o país, que é conectar as ferrovias aos portos em diferentes regiões.

O secretário falou ainda sobre a importância da obra para trazer insumos e outras cargas, especialmente para o agronegócio. “Essa circulação interna e de retorno com fertilizantes e milho, por exemplo, vai beneficiar outros estados além do Paraná, como Santa Catarina e o Mato Grosso do Sul”, destaca.

Esta também é a opinião do secretário de Estado do governo do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck. Durante o encontro ele falou sobre a importância da execução da Nova Ferroeste para fomentar a competitividade das regiões Sul e Centro-Oeste. “A partir da construção dessa obra poderemos reduzir tarifas e melhorar a competitividade dos produtos brasileiros no Exterior”, afirmou Verruck.

A ausência de estradas de ferro no Paraguai foi lembrada pelo diretor do Departamento de Transporte Ferroviário (DTFER), Ismael Trinks, que participou presencialmente do evento na sede da Fiep. Para ele o ramal ligando Cascavel a Foz do Iguaçu compensa uma carência logística do país vizinho e gera novas oportunidades. Ele lembrou ainda a transformação proporcionada pela publicação da Medida Provisória 1065, no final de agosto, que inclui a autorização como opção de execução de novos projetos para o modal ferroviário. “Desde a publicação, recebemos 12 pedidos de autorização, três deles da Nova Ferroeste”, explica ele, sobre as conexões com Maracaju, Foz do Iguaçu e Paranaguá protocolados este mês que serão acrescidos à concessão vigente.

Hoje a Ferroeste opera um trecho de 248 quilômetros entre Cascavel e Guarapuava, onde se liga à Malha Sul, operada pela Rumo Logística para chegar ao Litoral. Atualmente o tempo de viagem de um contêiner entre Cascavel e Paranaguá é de cinco dias; a partir da execução da Nova Ferroeste, esse trajeto será feito em 20 horas.

O projeto prevê a ampliação nas duas pontas. De Cascavel a ferrovia segue até Maracaju (MS), além de um ramal a Foz do Iguaçu. A partir de Guarapuava, a Ferroeste vai seguir um novo traçado para cruzar a Serra da Esperança, contornar a Capital e descer a Serra do Mar próximo à BR 277 até alcançar o Litoral. Hoje cerca de 20% de toda mercadoria que chega aos dois portos é transportada por trem. A intenção é aumentar essa fatia para até 60% com a chegada da Ferroeste a Paranaguá.

Um dos trechos mais sensíveis do ponto de vista ambiental e de engenharia é a descida da Serra do Mar que vai acontecer junto à área de domínio da BR 277, sempre que o relevo permitir. Um vídeo com a projeção do traçado foi apresentado aos participantes. Nos 55 quilômetros serão construídos 25 viadutos (17 km no total) e 10 túneis (8 km no total), procurando preservar ao máximo a vegetação existente.

 A Nova Ferroeste foi projetada para suportar composições com vagões sobrepostos, conhecidos como double stack. Dessa maneira, além de aumentar a capacidade de transporte, diminui o impacto ambiental, como lembra Fagundes. “Cada vagão corresponde a quatro caminhões, dessa maneira reduzimos significativamente a emissão de carbono em comparação com o modal rodoviário”, disse o coordenador do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes.

A Nova Ferroeste vai beneficiar 9 milhões de pessoas em 427 cidades no Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraguai.

SETOR PRODUTIVO – Para Edson Vasconcelos, vice-presidente e coordenador do Conselho Temático da Infraestrutura da Fiep, esse debate com o setor produtivo é fundamental para se entender como estão os portos hoje, para receber a produção atual e a projetada. “Traz uma clareza muito importante dessa conexão com a nova ferrovia. O porto atender a produção do Estado do Paraná é uma primeira necessidade, mas, hoje, o que se mostrou aqui é que ele transcende e passa a atender também o Mato Grosso do Sul, o Paraguai e coloca o Estado como de grande interesse portuário”.

O evento foi aberto virtualmente pelo presidente do Sistema Fiep, Carlos Valter Martins Pedro. Também participaram, pelo Governo do Estado, o secretário de Planejamento e Projetos Estruturantes, Valdemar Bernardo Jorge; e o diretor da Ferroeste, André Gonçalves. Além deles, ainda fizeram parte do debate representantes do Instituto de Engenharia do Paraná; do Movimento Pró-Paraná; da TCP e do projeto do Porto Guará.

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