Mercado saudita é incentivo à criação de ovinos no Brasil


Os rebanhos brasileiros de caprinos e ovinos ainda são pequenos em comparação aos maiores rebanhos mundiais, porém uma recente decisão do governo da Arábia Saudita pode incentivar o aumento da produção. Após uma visita do ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, ao país do Golfo no final de julho deste ano, o governo local abriu seu mercado para carnes de ovinos e caprinos produzidos no Brasil.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), em 2020 o consumo aparente de carne de ovinos na Arábia Saudita foi de 109,54 mil toneladas. Para a carne de caprinos, o consumo foi de 56,63 mil toneladas. Consumo aparente é o total da produção de um bem, adicionado das importações deste mesmo bem e subtraídas suas exportações. Ou seja, o total do referido bem que fica no país.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil, o pacto sanitário celebrado entre os dois países compreende exportação de carne e produtos cárneos de ovinos (ovelhas, carneiros e cordeiros) e caprinos (cabras, bodes e cabritos). Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Ferreira Gressler, a abertura deste mercado é uma grande oportunidade para o Brasil, mas o rebanho pequeno dificulta o atendimento da demanda local e da internacional.

“Este mercado consolidado é sem sombra de dúvida um grande passo de mercado internacional, que se entende extremamente favorável, mas só vai se consolidar a partir do momento em que tenhamos aumento de rebanho”, diz Gressler.

Ele afirma que o rebanho brasileiro de ovinos (na imagem acima) soma 20,5 milhões de cabeças, sendo que a maior parte da produção está no Nordeste. Aproximadamente 12 milhões de cabeças são criadas na região, a maior parte delas de raças que não produzem lã (deslanadas) e são destinadas a abate e produção de carne, como a raça Santa Inês. Há potencial, segundo Gressler, para ampliar a produção no país. Já as raças que são criadas no Sul do Brasil produzem lã. Algumas delas são destinadas para a produção de têxteis. Outras podem ser utilizadas para produção de lã de menor qualidade e para produção de carne.

Gressler afirma que, para que a produção aumente, as fábricas possam produzir carne halal (de acordo com os preceitos do islã) e para que seja possível exportar em grande quantidade é preciso que exista investimento dos governos federal e estadual. Ele cita como desafio, por exemplo, a logística de exportação. “(Aumento da capacidade produtiva e produção halal) Se consolidam porque, a partir do momento em que um mercado bate à porta, com valor significativo, se torna rentável, atrativo. E o ovino precisa muito de um mercado atrativo economicamente”, diz.

Caprinos

Desafios e oportunidades também existem em outro mercado aberto pela Arábia Saudita: o de caprinos. Neste caso, o rebanho brasileiro é ainda menor, formado por 11,9 milhões de cabeças, segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal 2021 realizada e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rebanho de caprinos brasileiros também se concentra no Nordeste do país.

De acordo com o supervisor do Setor de Gestão da Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Caprinos e Ovinos, Vitor Coutinho dos Santos, o desenvolvimento do mercado caprinos deverá seguir os mesmos passos do ovino. “Percebemos que os abatedouros e frigoríficos estão cada vez mais tecnicamente preparados e com as certificações sanitárias e de qualidade adequadas para acessar mercados locais, nacionais e internacionais”, diz Vitor. Ele explica que o monitoramento realizado pelo Centro de Inteligência de Caprinos e Ovinos da Embrapa tem identificado um aumento na demanda do Sudeste por carne caprina, mas um número ainda pequeno de estabelecimentos está preparado para atender a demanda, o que torna o desafio ainda maior ao se aplicar esse crescimento de demanda para o mercado internacional.

Dados da FAO citados pela Embrapa mostram que o Brasil é dono do 21º maior rebanho global de caprinos. O maior rebanho pertence à Índia, com 148,7 milhões de cabeças, seguido por China, Paquistão, Nigéria e Bangladesh. As exportações de caprinos e seus produtos entre 2018 e 2022, informa o pesquisador na área de socioeconomia da Embrapa Caprinos e Ovinos, Klinger Aragão Magalhães, somaram US$ 7,2 milhões, sendo que desse total US$ 96,2 mil foram de carnes. A maior parte das receitas com exportações veio das peles e couros de caprinos.

Ainda citando dados da FAO, Magalhães afirma que os principais importadores globais de carne caprina são Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, China, República da Coreia e Arábia Saudita e os maiores exportadores globais de carne caprina são Austrália, Etiópia, Quênia, Nova Zelândia e França.

Analista da Embrapa Caprinos e Ovinos, Zenildo Ferreira Holanda Filho observa que o processo de exportação precisa começar por aperfeiçoamentos na organização da produção local, como identificação dos potenciais rebanhos e melhoria da qualidade e de padronização dos produtos conforme a demanda dos compradores.

“Há que se considerar a ínfima quantidade, atualmente, de estruturas de abate devidamente credenciadas pelo Mapa para produzir carne caprina para exportação e se essas plantas se localizam de forma que a logística de envio para o abate compense economicamente. Seguindo-se essa lógica, a intenção de exportar carne caprina atualmente deve ser incondicionalmente acompanhada de ações robustas de médio e longo prazo de iniciativa governamental, que facilitem e estimulem as ações complementares da iniciativa privada”, afirma.

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