Exportação volta a perder espaço na produção de veículos


A exportação de veículos, que bateu recorde no ano passado e ajudou a minimizar as perdas do setor durante a retração do mercado interno, voltou a perder espaço nos negócios das montadoras. Não só porque a demanda do consumidor brasileiro tem subido novamente, mas principalmente porque dois dos principais mercados no exterior, a Argentina e o México, têm diminuído os pedidos.

De janeiro a agosto deste ano, o número de veículos exportados, considerando todos os destinos, somou 486,4 mil unidades, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, uma queda de 4,6% em relação a igual intervalo do ano passado, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O volume representa 25% do total produzido pelas montadoras no período. Em 2017, quando as exportações atingiram máxima histórica em unidades, essa participação foi de 28%, a maior desde 2005.

É a primeira vez desde 2014 que as vendas ao exterior perdem espaço na produção das montadoras. Os anos de aumento da participação se deram principalmente enquanto o mercado interno despencava, na esteira da crise econômica. Com o consumidor brasileiro sem apetite para comprar carros novos, as montadoras voltaram suas atenções para o exterior, especialmente para a Argentina, que estava com o mercado aquecido.

Agora, a situação se inverte. Os argentinos, que consomem cerca de 70% dos veículos brasileiros vendidos ao exterior, vivem uma crise financeira, com juros básicos a 60% ao ano e a moeda local cada vez mais desvalorizada. De janeiro a agosto, os embarques para lá caem 4% em relação a igual período do ano passado, de 358 mil para 344 mil unidades.

Outro mercado relevante, o México reduziu pela metade as compras de veículos brasileiros, de 61,5 mil entre janeiro e agosto do ano passado para 31 mil em igual período deste ano. A demanda é afetada principalmente pelas incertezas que surgiram depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou revisar acordos comerciais com o país.

Ao mesmo tempo em que destinos importantes diminuem os pedidos, o mercado brasileiro consolida sua recuperação, iniciada em 2017. No acumulado de 2018 até agosto, as vendas crescem 14,9%, o que contribui para diminuir a importância das vendas ao exterior na produção.

Apesar de comemorar a retomada do mercado interno, o setor se frustra com a menor relevância das exportações. Quando o mercado externo crescia, executivos afirmavam que o maior objetivo era manter o fôlego, para diminuir a dependência da produção a oscilações da demanda brasileira.

Com as frustrações na Argentina e no México, a Anfavea vai revisar novamente para baixo a projeção para exportações, em 2018. No início do ano, esperava crescimento de 5%. Em meados do ano, passou para estabilidade. No mês que vem, deve revisar para queda. “Não vamos repetir o recorde do ano passado”, disse o presidente da associação, Antonio Megale.

O economista Fábio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, que também revisou para baixo sua previsão para vendas ao exterior, de alta de 7% para recuo de 8%, acredita que, em 2019, as exportações devem continuar perdendo relevância na produção. Ele espera uma nova queda nos embarques e um crescimento de 7% a 8% no mercado doméstico. “Depois de a Argentina ter entrado nessa crise, vai levar um ou dois anos para se recuperar. Não sonhemos com uma grande recuperação da exportação de veículos para lá”, disse Silveira.

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