Comércio exterior ruma para nova dinâmica e superávit alto


Mesmo com divergências sobre o ritmo de retomada da atividade doméstica e sobre a evolução da pandemia e seus impactos no comércio internacional, projeções de analistas ouvidos pelo Valor convergem para uma balança comercial em 2021 com dinâmica diversa da de 2020, ano marcado por superávits gerados por queda de importações e de exportações. Para o ano que vem, analistas esperam saldo positivo resultante de crescimento nas duas pontas, com superávit estimado entre US$ 40 bilhões e US$ 69 bilhões.

Silvio Campos Neto, economista da Tendências, diz que a expectativa é de um superávit de US$ 52,1 bilhões em 2021, com crescimento de exportações e de importações, essas últimas em maior intensidade.

As exportações devem continuar beneficiadas pelo ambiente internacional, diz ele, marcado pela forte retomada da China e pela alta dos preços de commodities. “Já as importações serão estimuladas pela continuidade da recuperação gradual da atividade interna, além da perspectiva de uma taxa de câmbio menos depreciada que os níveis observados em 2020.” A projeção da consultoria para o câmbio no fim do próximo ano é de R$ 4,85.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), projeta para 2021 superávit de US$ 69 bilhões, o que significa ampliação ante o saldo positivo de US$ 51,9 bilhões esperados para 2020. Com crescimento de exportações e importações, a corrente de comércio, indicador do dinamismo das relações comerciais, teria avanço de cerca de 10% em 2021, depois de perda estimada também em cerca de 10% de 2019 para 2020.

O avanço de 13,7% esperado para as exportações no ano que vem, diz Castro, deverá ser puxados essencialmente por preços, principalmente de soja, petróleo e minério de ferro, que representam hoje cerca de 35% da pauta exportadora. A cotação média do minério de ferro deve subir perto de 42% em 2021 contra este ano. Petróleo e soja em grão, estima a AEB, ficarão 12% e 25% mais caros, sempre em dólar, na mesma comparação. As exportações, diz Castro, ainda terão nas commodities o motor de sustentação. O dólar, estima, deve variar em 2021 entre R$ 4,80 e R$ 5,60, mas, independentemente do câmbio, a competitividade das exportações de manufaturados será impactada na América do Sul como um todo, devido a questões políticas ou econômicas.

Os desembarques também devem crescer, avalia Castro, mas em ritmo menor, de 7,3%, em 2021 contra este ano. Ou seja, não devem recuperar os cerca de 11% de queda que irão sofrer em 2020, na comparação com o ano anterior. A previsão de crescimento do PIB em 2021, entre 2,5% e 4%, diz Castro, deve levar ao aumento do consumo das famílias e do governo, o que contribui para as importações, mas ao mesmo tempo não haverá auxílio emergencial e, com o atraso das vacinas, a pandemia deverá ter grandes efeitos durante todo o primeiro semestre do próximo ano.

Helcio Takeda, diretor de pesquisa econômica da Pezco Consultoria, também estima crescimento para embarques e desembarques, mas em níveis bem menores, que devem levar a um superávit de US$ 55,5 bilhões ao fim de 2021. Considerando a média por dia útil, diz Takeda, os embarques brasileiros devem avançar 3,9% em 2021 na comparação com este ano. O que se espera, diz, é que durante o primeiro semestre do ano que vem as exportações sejam impulsionadas principalmente pelos preços, principalmente pelas commodities agrícolas, enquanto deve haver quedas de volume na comparação interanual.

No segundo semestre, avalia Takeda, deve haver pequena recuperação de volume, considerando que, com o esperado sucesso da vacina contra covid-19, a demanda internacional se fortaleça. Os preços, porém, avalia, devem cair não somente em relação a igual período deste ano mas também em relação ao primeiro semestre de 2021.

A retração nos preços, acredita o economista, deve acontecer porque produtos importantes, como o minério de ferro, terão já uma produção mais próxima do nível padrão, o que deve fazer os preços perderem força. “Além disso, com os preços nos níveis atuais e volumes retomando gradualmente, achamos que haverá continuidade no processo de investimentos e os mercados vão começar a precificar ampliação da oferta em 2022 e 2023, antecipando queda de preços no decorrer do segundo semestre do ano que vem.”

Para as importações, diz ele, espera-se avanço de 5,9% de 2020 para 2021, também considerando média por dia útil. O crescimento projetado é relativamente pequeno, diz, dado que o rearranjo da cadeia produtiva realizado neste ano não será revertido em 2021 tão rapidamente, com o mercado doméstico ainda muito afetado pela pandemia durante o primeiro semestre. “Consideramos que haverá também um efeito preço ao contrário, com o mundo exportando deflação para o Brasil em razão da ociosidade nos outros países.”

A apreciação cambial, diz Takeda, irá acontecer, mas se consolidará mais no segundo semestre, o que também contribuirá para um retomada mais lenta das importações, convergindo com o ritmo de recuperação de atividade esperado. A Pezco projeta crescimento “conservador” para PIB em 2021, de 3%, embora com viés de alta.

Bruno Lavieri, economista da 4E, é menos otimista em relação às exportações, que pelas projeções da consultoria devem ter aumento pequeno em 2021, praticamente com estabilidade em relação a este ano. Para ele deve haver uma alta dos embarques brasileiros em razão de volume e não de preços, cujo movimento ele ainda considera errático, embalado pelas incertezas.

No campo das importações, a expectativa, diz Lavieri, é de alta de 12,2% em relação a 2020. “Há espaço muito grande para recomposições na importação em razão da grande queda neste ano.” A alta será impulsionada pela retomada de atividade, diz, mas os níveis ainda deverão ficar abaixo dos de 2018 e 2019. A consultoria projeta expansão de 3,7% de PIB para 2021, com queda de 4,5% neste ano.

Fonte: Valor Econômico

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