Estudo sobre impactos causados pela crise climática nos portos de Santos (SP), Rio Grande (RS) e Aratu (BA) é lançado em Brasília


A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) lançou na manhã desta terça-feira (6), em Brasília, o “Levantamento de Riscos Climáticos e Medidas de Adaptação para Infraestruturas Portuárias”. O estudo, desenvolvido pela I Care, aponta os principais riscos climáticos nos portos de Santos (SP); Aratu (BA) e Rio Grande (RS). Vendavais e chuvas mais frequentes e intensas são algumas das ameaças que podem levar à interrupção da navegação nas regiões portuárias, assim como o aumento do nível do mar que, no futuro, pode provocar inundação dos pátios dos terminais, causando danos a diferentes equipamentos. Cerca de 95% do comércio exterior, em toneladas, transita pelo sistema portuário nacional, que movimenta R$ 293 bilhões ao ano, cerca de 14% do PIB, segundo dados da Antaq.

Os resultados de risco climático obtidos pelo levantamento apresentam um intervalo compreendido entre 2021 a 2040 e 2041 a 2060, com o propósito de mostrar a progressão das informações do tempo atual até 2060. O estudo detalha as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência em cada um dos portos, além de relacionar os principais riscos estruturais e operacionais aos quais os terminais estão sujeitos, e as medidas de adaptação a serem empregadas.

Utilizando uma abordagem multi-modelos, que projeta o clima futuro e leva em conta as potenciais emissões globais de gases de efeito estufa, o estudo evidenciou que, entre os portos analisados, o Porto do Rio Grande tem os maiores riscos. A interação das infraestruturas portuárias com o aumento da frequência e da intensidade dos ventos no sentido Sul-Sudoeste podem resultar em maior demanda por manutenção, aumento de custos operacionais e capacidade operacional reduzida.

No Porto de Santos, o levantamento mostra que as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência são as chuvas e o vento forte, que podem causar impactos sobre o acesso viário ao terminal, equipamentos de içamento, entre outros.

Já no Porto de Aratu, o estudo indicou que chuvas persistentes serão “muito frequentes” na região, tornando-se a maior causa de preocupação, principalmente para a operação de produtos sólidos, que não podem ser operados em condições de maior umidade.

Os portos analisados já possuem históricos recorrentes de paralisações devido a essas intempéries e nenhum deles está totalmente preparado para o aumento de eventos climáticos extremos.

“Este levantamento contribui para que a Antaq siga aprimorando seu trabalho nos portos brasileiros, oferecendo às administrações portuárias mecanismos para aumentar a eficiência das operações, evitando ao máximo perdas operacionais e garantindo que a infraestrutura dos complexos permaneça o mais íntegra possível, a fim de evitar paralisações”, explica o diretor-geral da Antaq, Eduardo Nery.

O estudo feito pela I Care com a participação da Marinha, Autoridade Portuária e operadores dos portos não detalha apenas as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência em cada um dos portos, mas também relaciona os principais riscos estruturais e operacionais aos quais os terminais estão sujeitos e as medidas de adaptação a serem empregadas.

Dentre as possíveis medidas para redução dos riscos estão a criação de bases de dados sistematizados sobre paradas operacionais e danos causados por eventos climáticos; a melhoria nos processos de manutenção; os investimentos em sistemas redimensionados para novos padrões climáticos; o estabelecimento de práticas de monitoramento; a alteração nas condições operacionais; e a criação de grupos de trabalho para planejar e implementar as medidas.

O “Levantamento de Riscos Climáticos e Medidas de Adaptação para Infraestruturas Portuárias” também conta com um guia metodológico, alinhado às normas e práticas internacionais, como a ISO 14091 e o Protocolo de Engenharia para Avaliação de Vulnerabilidades de Infraestrutura, que permitirá que outros portos possam fazer análises semelhantes, buscando se antecipar aos potenciais impactos da mudança do clima.

“Além do estudo, desenvolvemos um guia que traz o passo a passo do que os operadores devem fazer para prevenir esses potenciais prejuízos causados pelos impactos climáticos, as melhorias na gestão que devem ser implementadas e as análises que estão sendo propostas nas práticas de gerenciamento de riscos”, diz Leonardo Werneck, CEO da I Care.

O projeto contou com financiamento da GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional).

Segunda etapa dos estudos

Esta é a segunda etapa dos estudos do impacto das mudanças climáticas sobre os complexos portuários brasileiros sob gestão da Antaq. Na primeira etapa, em 2021, foi elaborado um ranking de risco climático para 21 portos públicos brasileiros considerando as ameaças climáticas projetadas para os horizontes de 2030 e 2050.

Agora, a partir do ranking em que foram selecionados os portos de Santos, Aratu e Rio Grande, em função de suas posições na classificação e a garantia de representatividade territorial, a I Care realizou análises customizadas e mais detalhadas de riscos climáticos nas três instalações portuárias mais expostas, além de propor medidas de adaptação com a finalidade de garantir a regularidade e segurança em suas operações.

Sobre a I Care

A I Care, fundada em 2008 em Paris, é uma consultoria especializada em estratégia e inovação do meio ambiente que acompanha os organismos públicos e privados na sua transição ambiental e na integração de questões socioambientais na estratégia para a sustentabilidade através de três polos de expertise: clima, biodiversidade e finanças sustentáveis. A empresa opera no Brasil desde 2010, sendo que desde 2019 possui um escritório em Belo Horizonte.

 

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