A importação da madeira que sai das florestas do Brasil está concentrada em 20 países. Dados compilados pela área técnica do Ibama obtidos pelo Estadão mostram que, entre 2007 e 2019, os Estados Unidos lideram o consumo da madeira nacional, tendo adquirido 944 mil metros cúbicos (m³) de produtos do Brasil. O segundo maior comprador foi a França, com 384 mil m³, seguida por China (308 mil m³), Holanda (256 m³) e Bélgica (252 mil m³). No total, o mercado legal de madeira exportou cerca de R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos. São aproximadamente R$ 600 milhões anuais.
A lista traz ainda, em destaque, o Reino Unido (163 mil m³), Portugal (155 mil m³), Suíça (115 mil m³), República Dominicana (105 mil m³), Dinamarca (102 mil ³) e Alemanha (87 mil m³). Em volumes históricos menores aparecem, nesta ordem, Japão, Itália, Espanha, Argentina, Uruguai, Canadá, Panamá, Suécia e Antilhas Holandesas.
Esses dados do Ibama referem-se às exportações oficiais, ou seja, trata-se de madeiras que deixaram o Brasil de forma legalizada. Isso não significa, porém, que a origem de toda essa madeira é legal. Essa situação acontece por causa da forte informalidade e criminalidade que domina o mercado madeireiro no Brasil. Quando o presidente Jair Bolsonaro afirma que vai “revelar” quais são os países “receptadores” de madeira ilegal da Amazônia, não tem como fugir desses destinos, a não ser que se baseie apenas em dados específicos de uma operação da Polícia Federal, por exemplo, o que não poderia ser representativo de todo o cenário.
Antes de uma chapa de ipê ou mogno chegar ao Porto de Santos ou qualquer outra porta de saída do território nacional, ela percorre uma cadeia que, invariavelmente, é marcada pela corrupção.
Os dados do Ibama mostram que, de toda a produção nacional de madeira registrada entre 2012 e 2017, cerca de 90,81% foi consumida no Brasil após beneficiamento, sendo que apenas 9,19% de produtos beneficiados tiveram como destino o comércio exterior. Os dez maiores compradores internacionais de madeira do Brasil consumiram 73,47% de todos os produtos madeireiros exportados pelo País no período de 2012 a 2017.
Entre as espécies mais cobiçadas pelos estrangeiros, o principal alvo é o ipê, com 91,97% do total exportado, seguido pela cerejeira-da-Amazônia, jacarandá-violeta e mogno.
Um compilado de informações de exportação coletadas de 2007 a 2020 mostra uma forte concentração nas exportações entre as empresas que atuam no setor. Apesar de 895 empresas terem vendido o material neste período, as 50 maiores foram responsáveis por quase 50% de todas as transações históricas.
A atividade de base florestal legalizada representa cerca de 3% do PIB brasileiro, segundo dados do Ibama. Em média, o País produz oficialmente algo entre 10 milhões a 12 milhões de metros cúbicos de madeira ano. Estudo publicado pelo Ibama no ano passado indica que a atividade de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), ou seja, a retirada de madeira de áreas voltadas a essa finalidade, é responsável por pelo menos 88% desta produção, sendo os estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia os principais produtores.
Procurados, os países que lideram a lista de maiores exportadores de madeira brasileira não se manifestaram até a publicação da notícia.
Fonte: Estadão