O que esperar de 2020 no comércio exterior


O crescimento da economia irá impulsionar ainda mais o comércio exterior brasileiro em 2020. A retomada das compras da carne nacional pela China também deve alavancar o setor nas vendas internacionais. E a entrada em vigor do IMO 2020, norma que prevê o uso exclusivo de um combustível mais limpo e com até 0,5% em emissões de enxofre, impactará diretamente a cadeia logística internacional. Estes foram alguns dos aspectos expostos durante o Perxpectivas 2020, evento promovido pela Asia Shipping (AS), que reuniu importantes nomes do mercado para um debate de ideias sobre o cenário atual.

O evento, realizado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, teve casa cheia. Os participantes interagiram com os palestrantes em tempo real para realização de perguntas e apontamentos. A jornalista e apresentadora da Band News, Fabiana Panachão, foi a mestre de cerimônias e, além de apresentar o Perxpectivas 2020, foi a responsável por mediar as perguntas dos palestrantes e convidados da mesa de debate.

Entre os profissionais debatedores estavam Leandro Barreto, administrador de empresas e especializado em economia internacional e em inteligência competitiva. O especialista destacou os altos e baixos no transporte de carga nos últimos anos e como o overcapacity, excesso de capacidade dos navios para pouca demanda, impactou as empresas nos últimos anos e o que fazer para se preparar para os próximos.

 Um dos palestrantes mais aguardados deixou uma mensagem de positividade, de que a hora de investir é agora e que a ascensão da economia do Brasil está próxima. O economista Ricardo Amorim trouxe análises sobre câmbio, inflação, crédito, PIB e como todo esse contexto é capaz de afirmar sua expectativa de crescimento do Brasil.

 “Todas as atividades propostas tiveram por objetivo estimular o debate acerca do comércio exterior em suas diferentes perspectivas, de maneira a incitar empresários a tomarem decisões assertivas e que possam contribuir para um cenário favorável em 2020. Essa foi mais uma oportunidade de mostrar a referência que a Asia Shipping tem no mercado e como isso pode ajudar seus clientes parceiros”, disse Dani Santis, coordenadora de marketing Brasil da companhia.

Perguntas e respostas sobre o comércio exterior em 2020

1) Quais são os principais aspectos econômicos que apontam para um crescimento em 2020?

Segundo o economista Ricardo Amorim, de fato, os indicadores dos últimos meses têm mostrado a economia acelerando e os dados do PIB já vem mostrando isso. O mais importante é que os últimos dados, tanto dos setores de serviço como da indústria, mostram uma aceleração forte. “Por exemplo, a média do crescimento da indústria nos últimos três meses, se estendidas para um ano, apontam para um crescimento de 10%. Isso tudo somado às taxas de juros muito mais baixas. O Brasil deve, provavelmente, atrair mais investimentos e crescer bem mais.

 2) Por que este é um bom momento para investir?

Com a queda na taxa de juros, a gente deve ter um aumento tanto de consumo quanto de investimentos. Juros mais baixos significam mais crédito e crédito mais barato. Com isso, os consumidores normalmente compram mais. As empresas vendendo mais tendem a contratar mais gente, o que aumenta a renda dos trabalhadores e o consumo. Isso gera um círculo virtuoso. Por isso que investir faz sentido nesses momentos. Ricardo Amorim explica que o Brasil tem hoje a taxa de juros mais baixa da história e com chance de cair ainda mais em 2020. É isso que cria um cenário muito mais atraente para quem quer fazer investimentos em novos negócios e em ativos financeiros, como imóveis e bolsa de valores.

 3) O ano de 2020 será positivo para o comércio exterior?

Para Rafael Dantas, diretor comercial da Asia Shipping, o ano tende a ser bastante positivo para o comércio exterior no nosso país. A economia está crescendo, vai estimular o consumo e, consequentemente, as importações. Com o dólar desvalorizado, a exportação também deve aquecer, já que o Brasil está barato para outros países. Somado a isso, a China voltou a comprar carne brasileira e deve impulsionar as exportações do produto para o Extremo Oriente.

 4) O dólar alto vai ajudar ou atrapalhar este cenário?

Existem dois pontos, segundo Dantas: a exportação e a importação. Ele é mais benéfico para a exportação, com certeza, e ele atrapalha um pouco a importação. “Porém, como tivemos anos ruins e estamos voltando agora a números de 2014 na importação, mesmo com o dólar adverso, existe uma grande tendência de a gente ter um ano positivo também para a importação”, diz o executivo.

 5) Quais países da América Latina devem apresentar maior crescimento?

A América Latina vem passando por um momento difícil, com vários movimentos sociais acontecendo ao mesmo tempo em países como Colômbia, Equador e Chile. A Argentina está assumindo um governo de esquerda, o que deixa o mercado mais receoso. “Eu acredito que o Peru e o Brasil têm mais chance de crescer com melhor desempenho em 2020”, afirma.

 6) Em tempos de IMO 2020, quais são os principais desafios do setor de navegação nos próximos anos?

O “combustível verde”, como o mercado vem chamando os efeitos do IMO 2020, trará impacto imediato para a indústria de navegação, que terá um gasto maior de combustível. O impacto será o aumento de fretes. Para a indústria, o principal desafio é continuar investindo em tecnologia para facilitar tanto a importação quanto a exportação e não deixar que o trade war (guerra comercial) entre os Estados Unidos e a China traga uma desglobalização. “Precisamos ter o inverso: continuar investindo na globalização e gerar uma comunicação mais próxima entre os países”, diz Rafael Dantas.

 7) Como serão os resultados para a indústria da navegação?

Para Leandro Carelli Barreto, sócio da Solve Shipping Intelligence e especializado em economia internacional e inteligência competitiva, 2020 deve representar o reequilíbrio definitivo entre oferta e demanda por frete no mundo. Como as companhias de navegação perderam muito dinheiro nos últimos 10 anos (mais oferta do que demanda, o que resultou em diferentes fusões entre armadores), o próximo ano deve, de fato, fundamentar um novo período para este mercado. “Um levantamento realizado pela Alphaliner demonstrou que, pela primeira vez em mais de uma década, a média das margens operacionais dos principais armadores de contêiner ficou positiva (e ascendente) pelo quinto trimestre consecutivo. Se a guerra comercial entre países não atrapalhar, temos tudo para ter um ano de equilíbrios na navegação”, observa. Talvez todo esse contexto ajude a explicar a redução dos investimentos por parte dos armadores em novos contêineres refrigerados, que associada à enorme demanda adicional gerada pela febre suína na China, torna cada vez mais provável a escassez desses equipamentos na próxima safra de frutas no hemisfério Sul.ν

Anterior Obras em berços de atracação da Ilha Barnabé, no Porto de Santos, são concluídas
Próximo Suape deve voltar a ter autonomia até a metade deste ano