Por que o Brasil está exportando mais café para Colômbia


Segunda maior exportadora de café arábica do mundo, a Colômbia importa café do líder do ranking, o Brasil – e o volume de compras tem crescido de maneira acentuada. Neste ano, entre janeiro e setembro, as vendas brasileiras de café verde (ou in natura) aos colombianos somaram 814 mil sacas. O volume é 90% maior que o do mesmo período de 2020 e supera os números dos três anos anteriores, de acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em todo o ano de 2018, os embarques somaram 479 mil sacas; em 2019 e 2020, eles somaram 298 mil e 794 mil sacas, respectivamente.

O fenômeno não é novo – o Brasil exporta café para a Colômbia há pelo menos dez anos, diz Eduardo Heron, diretor técnico da entidade -, mas ganha novas cores em uma safra de alta inadimplência nas entregas do grão no país vizinho. Os cafeicultores colombianos deixaram de entregar ccerca de 10% da safra neste ano, o que tem afetado a cadeia – indústrias, traders e exportadores -, noticiou a Reuters na semana passada. À agência, Roberto Velez, dirigente da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia, confirmou que o país enfrenta “escassez generalizada”.

“A Colômbia tem organizado programas de promoção de consumo interno. Com isso, a indústria de torrefação local vem demandando mais café brasileiro”, afirma Heron. Segundo ele, as importações se intensificaram a partir de 2018, acompanhando a tendência de crescimento do consumo da bebida no mundo. Dados da Organização Internacional do Café (OIC) mostram que o consumo no mercado interno colombiano cresceu 62% entre 2000 e 2020, quando alcançou 2,1 milhões de sacas. Nesse intervalo, a produção de café do país aumentou 38%, a 14 milhões de sacas.

Os embarques do arábica, variedade que os colombianos mais compram do Brasil, quase dobraram entre 2020 e 2021, passando de 360 mil sacas nos nove primeiros meses do ano passado a 619 mil sacas no mesmo intervalo deste ano. Também chama a atenção o avanço das vendas de conilon: na mesma comparação, o volume saltou de 70 mil sacas para 195 mil sacas, de acordo com o Cecafé.

Com o aumento dos volumes e a disparada dos preços do grão em 2021, a receita do Brasil com as exportações de café verde à Colômbia mais que dobrou neste ano, chegando a US$ 85 milhões no acumulado até setembro. Os produtos solúvel e torrado também estão na pauta de exportações, mas em menor volume.

Apesar de o aumento das vendas brasileiras à Colômbia ocorrer em um cenário de forte inadimplência nas entregas, Heron descarta que os vizinhos reexportem o café brasileiro. “Não vejo esse motivo [para a alta de embarques]”, diz. “O consumo cresceu no mundo, e a produção da Colômbia, mesmo aumentando, não foi capaz de atender a demanda externa e interna.

Segundo Pedro Valim, sócio e diretor da corretora Barão Comissária Café, que atua em Varginha (MG), uma das maiores praças de negociação de café do mundo, os colombianos têm comprado um produto que tem o padrão do que é consumido no mercado interno brasileiro. Valim faz a intermediação de embarques à Colômbia há três anos.

Falta café para mercado interno

“A maior parte do café produzido na Colômbia tem perfil de exportação, para mercados que remuneram melhor. Não sobra tanto para o mercado interno”, afirma Valim. Os cafés consumidos internamente, seja na Colômbia ou no Brasil, têm um padrão diferente de produto destinado a mercado internacional. Para efeito de comparação, grandes que comercializam café no Brasil podem comprar grãos resultantes de rebeneficiamento com uma lista de cerca de 600 defeitos (quebrados ou pretos, por exemplo), enquanto produtos destinados a mercados mais exigentes podem ter, no máximo, entre 15 e 25 defeitos.

Outros países produtores, como Equador e México, também vêm ampliando as compras de café do Brasil. O aumento do consumo global da bebida ocorre em ritmo mais rápido do que o da produção, o que tem mexido com a dinâmica de embarques também entre as grandes praças produtoras. Segundo o relatório mais recente da OIC, o consumo de cafés no mundo (somada as duas variedades) cresceu 1,9% no ano safra 2020/21 em comparação com o ciclo anterior, para 167,3 milhões de sacas. A produção, por sua vez, aumentou 0,4% no mundo, para 169 milhões de sacas.

Fonte: Valor Econômico

 

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